O Anacleto

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terça-feira, outubro 19, 2004

Anacleto Prado Coelho

Na próxima galeria de notáveis pensadores da esquerda moderna, só muito dificilmente não estará presente um dos grandes luso-anacletos intelectuais. Refiro-me obviamente ao criador de conceitos Anacleto Prado Coelho.

Muitos de nós ainda não se esqueceram do famoso paper em que o ilustre pensador derrubou os muros da economia capitalista revolucionando a lei da procura, demonstrando de forma poética e sublime que a consequência do aumento do preços dos livros seria um aumento do número de livros vendidos. A injustiça que o comité Nobel tem cometido para Prado Coelho é imensa.

Eduardo recriou também o conceito de neo-liberalismo, dedicando algumas crónicas à explicação aos ígnaros do neo-liberalismo. Ficámos todos a saber que a desconstrução da paisagem é neo-liberal, principalmente pelos lados de S.Martinho do Porto.

Durante muitos anos Eduardo foi o expoente máximo em Portugal da cultura do name-droping, atingindo números de referências que ainda hoje constituem recordes difíceis de igualar.

Ninguém melhor do que Eduardo nos explicou o significante por trás do significado do apito...

"...Acontece ainda que o "apito" tem uma conotação fálica, mas frustre, de uma sexualidade sem energia nem alegria, reduzida a uma dimensão doméstica, envergonhada e melancólica. E, no plano do significante, um vocábulo em que apareça o elemento "pito" tem algo de uma sexualidade infantil, feita de expressões carinhosas, mas destituídas de agudeza e exuberância."
Recentemente Anacleto Prado Coelho desconstruiu o conceito capitalista da relação patrão/trabalhador, explorador/explorado explicando que o autodomínio da tarefa atribuível é um processo lento de aprendizagem, nunca inferior ao tempo necessário para compreender Derrida.


"Comecei a exercer as minhas funções de conselheiro cultural em Paris...No primeiro ano, realizei a minha instalação e esforcei-me por perceber os problemas. Como sempre, entre a realidade efectiva e as minhas ideias preconcebidas havia uma imensa desproporção. No segundo ano, estabeleci os contactos, organizei projectos, encontrei métodos de actuação. Só no terceiro ano comecei a trabalhar efectivamente. Seria nessa altura, quando começava a perceber alguma coisa do que estava a fazer, que devia vir-me embora?"
Eduardo, tal como Guevara teve as suas fraquezas. Durante algum tempo hesitou entre Derrida e Alves dos Reis.


"Assaltar um banco? Mas quem não o desejou um dia? Quem não imaginou a constituição de uma reduzida equipa de profissionais, um especializado em armas de fogo, outro com o carro à porta pronto a arrancar, outro capaz de descer de surpresa dos mistérios do tecto, outro treinado na abertura de cofres fortes, e lá vamos nós cheios de sacos com notas, lá vai cada um para o Havai da sua vida, de preferência com uma mulher de cabelos pretos e olhos esverdeados?"
Hoje, o Anacleto Coelho atira-se muito justamente a um fassista-capitalista neo-liberal e chama-lhe analfabeto.


"Saliente-se como o comentário mais arrogantemente analfabeto o do João Pereira Coutinho nas páginas do "Expresso". Para este jovem talento, pouco inteligente mas muito esperto, Derrida teria abolido o conceito de "verdade". Este é um daqueles lugares-comuns que não há tonto que o não repita."
Dá-lhe Eduardo! Só tu, como homem de esquerda, tens a invejável capacidade de compreender a supra-intelectualidade Derridiana.

E neste caso, não é preciso nenhum tonto para repeti-lo porque tu encarregas-te de nos relembrar que o teu conhecimento de Derrida é imenso. De Derrida e de tudo o mais, evidentemente.

Tu és imensamente superior a esse fassista-direitista-inculto-neo-liberal. Só tu és o mestre. Tu és perfeito. Tu és um Anacleto. Tu és um perfeito Anacleto.